Depois de tanto tempo sem escrever aqui, depois de algum tempo (que pareceu tanto) sem escrever sequer... eis-me de volta a olhar para aqui como se fosse possível voltar a trabalhar na docência por terras lusas. Perdi tanto tempo sem contar tempo de serviço que, se não recomeçar agora, ficarei para trás eternamente.
Eli
Diário de Um Professor Qualquer
(... um blogue aberto...)
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Tribunal dos Nadas
- Eu não sei fazer mais nada.
- Como?!
- A única coisa que sempre fiz foi
tratar dos meus filhos.
Tinha vinte e sete anos. Um número
ímpar que lhe dizia tanto como uma vida inteira que se resumia a um Curriculum
Vitae de frustração. Nem uma oportunidade. Susana saiu de mais uma entrevista
de emprego, que lhe tinham arranjada, sem esperança nenhuma. Desceu pelas
escadas, sentindo aquele cheiro estranho a velho entranhado nas paredes. Não
aguentaria três andares num elevador com dois metros quadrados. Abeirou-se da
estrada, sentou-se no passeio. Imaginou o resto da sua vida como uma
inexistência plena de nada.
Vivera na capital. Arredores, num
cubículo arranjado pelo homem que tomou conta dela. Como não tinha família e
conhecera aquele homem aparentemente seguro de si e do seu interesse, ela
apaixonou-se. Mais velho trinta anos, coisa que nem imaginou ser importante.
Tendo ela vinte anos na altura que o conheceu, suspirou num porto seguro que a
protegesse, sonhou que a amasse, a fizesse feliz e assim constituiriam família.
Assim foi. Susana engravidou algum
tempo depois de começar um relacionamento com ele. Foi uma felicidade
verdadeira. Ele sustentava-a. Entretanto, ela conseguira encontrar um trabalho
a lavar e limpar as zonas partilhadas de um prédio: escadas, sótão, sala de
reuniões, elevador, etc.
Quando teve o filho, deixou de
trabalhar, dedicando-se exclusivamente ao menino. Chamou-lhe Simão. O pai do
rapaz aparecia cada vez menos, desculpando-se sempre com o trabalho. Um dia,
estando ela já tão estoirada por não conseguir dormir, pois o miúdo não lhe
dava uma noite descansada, pressionou aquele a quem chamava de marido, um
companheiro meio ausente meio presente e perguntou-lhe, encarando-o:
- Tens outra?
Ele baixou a cabeça. Não disse
nada. Sentou-se na beira da cama. Ela abanou-o compulsivamente.
Então, ele resolveu contar-lhe:
- Sempre tive outra família, mas
quando te conheci não consegui resistir aos teus encantos.
Susana chorava compulsivamente.
Simão berrava no berço. O seu pai pegou nele ao colo, beijou-o, colocou-lhe a
chupeta e ele acalmou. O som do silêncio também ajudou Susana a raciocinar.
- Quando esperavas dizer-me?
- Não sei. Quando engravidaste,
pensei em dizer-te logo, mas depois, estavas… estávamos tão felizes, que não
queria acabar com esta emoção.
- Tens outra família mesmo?
- Tenho.
Receando perder a (in)dependência,
acabou por aceitar viver assim desde que ele nunca lhe falasse da outra
família. Viveria assim na ilusão de felicidade, embora, na ausência dele, chorasse
incessantemente em silêncio.
Teve mais duas filhas.
Cinco anos depois, tendo ela vinte
e cinco anos, ele faleceu. Ficou viúva sem alguma vez ter casado como o seu
sonho de infância. Ficou viúva sem ter tido um marido. Ficou viúva e não
poderia recorrer a nada, sem herdar nada.
Sem dinheiro para a renda e não tendo
como sustentar três crianças, foi levada para um lar no Norte do país. Um lar
onde acolhiam mães com as suas crias e ajudavam-nas a sobreviver.
Na verdade, ela sentiu-se bem
naquele espaço asseado e acolhedor. Pensava muito no conforto que os seus
filhos tinham ali, senão estariam na rua a apanhar frio.
Matriculou-os num Jardim de
infância IPSS que trabalhava em concordância com o Lar onde residia, assim como
o orfanato das crianças, tendo assim todas as condições para ir procurar
trabalho. O Simão já tinha quase cinco anos.
Viviam na grande cidade do Porto.
A relação da Susana com as Educadoras
de Infância era muito saudável e positiva, pois Susana estava sempre preocupada
com o bem-estar das crianças.
Tinha uma excelente relação com os
seus filhos. Havia muito carinho naquela família. Eram muito afáveis.
Susana passava o dia a procurar
emprego. Ela não se importaria de fazer o que quer que fosse, pois tinha-lhe
sido dito que a sua estadia no lar era temporária. Então, teria que arranjar
uma casa urgentemente e um emprego para sustentar todas as despesas.
Susana procurava emprego, qualquer
trabalho incansavelmente. Todos os dias à noite, chorava devido aos calos nos
pés por tanto percorrer a cidade a pé, mas principalmente por não ter saída.
Contou a sua história à Educadora
de Infância do seu filho mais velho, que a informou que o seu filho iria para a
escola (1º Ciclo – Ensino Básico), pois estava quase com seis anos. Recearam ambas
pelo futuro de uma criança que tinha tantas capacidades, mas que estava em
risco. Os mais pequenos nem se apercebiam da realidade. O menino lia os olhares
das suas referências.
Alguns meses depois, a Susana já
tinha arranjado casa para alugar com o dinheiro de algumas horas que conseguiu a
trabalhar na limpeza de casas de particulares. Estava mais animada. Ainda tinha
um longo caminho a percorrer, mas o risco de ser expulsa do Lar já seria menor.
A situação parecia controlar-se com ajuda exterior para alimentação.
Preparava-se para se mudar. Não
tinha emprego.
Estando já o Simão na escola,
orgulhosamente no primeiro ano, a aprender a desenhar as vogais, a lê-las e a
cantar os ditongos, a correr e a brincar com os colegas, aconteceu o que mais
se temera.
Susana foi chamada a tribunal para
ser informada de que os filhos lhe seriam retirados e, nesse mesmo dia, ela
deveria deixar o Lar, pois era só destinado a mães com filhos.
Foi a polícia primeiro buscar o
Simão à escola, sem lhe explicar nada. A única reação do menino foi chorar sem
saber o que lhe estava a acontecer. Seguidamente, foram ao Jardim de Infância
buscar as duas meninas. Quando ele as viu, acalmou-se, mas ficou sem saber
entender. Foram levados para um orfanato em S. João da Madeira, quando no Porto
havia muitos e ficariam mais próximos da mãe. Susana nem teve tempo de se
despedir. Quando chegou à escola e ao Jardim para se despedir, eles já tinham
sido levados.
Recolheram os poucos pertences
daquela mãe em sacos de plástico. Não teve direito nem a mais uma única dormida
sequer.
Mas, o tribunal assim decidiu. As únicas
referências que aquelas crianças tinham eram as pessoas da escola, a mãe e do
lugar onde viviam. Foi-se-lhes retirado tudo.
Imagino que o Simão não deve ter
cantado mais os ditongos durante muito tempo.
Só imagino, pois não sabemos mesmo
o que lhes aconteceu.
Parece-me que aquela mãe, não
tendo ninguém no Porto… acredito que deve ter sido acolhida por uma ponte
qualquer…
(Baseado em factos reais.)
Eli Rodrigues
terça-feira, 13 de novembro de 2012
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Adormecer.pt
Um amigo criou um site para dar a conhecer histórias que ele mesmo escreveu por forma de fazer render o seu talento.
Deixo aqui a sugestão para visitarem o seu site:
Deixo aqui a sugestão para visitarem o seu site:
Estou disponível para escrever as vossas ideias ou publicar algo do vosso interesse dentro do âmbito da lógica deste blogue.
Eli
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Sobre os critérios manhosos
Finalmente uma notícia de jeito:
http://profslusos.blogspot.pt/2012/10/finalmente-um-esclarecimento-muito.html
http://profslusos.blogspot.pt/2012/10/finalmente-um-esclarecimento-muito.html
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Voltámos
Não, não fui colocada. Estou a trabalhar a tempo parcial nas AEC e por enquanto esta é a única novidade.
:)
E vocês?! Que contam?!
terça-feira, 10 de julho de 2012
Caducidade
Pelos vistos, já vários conseguiram a Caducidade... a ver pormenores no blogue Professores Lusos:
http://profslusos.blogspot.pt/2012/07/mexam-se-por-favor.html
http://profslusos.blogspot.pt/2012/07/mexam-se-por-favor.html
terça-feira, 3 de julho de 2012
segunda-feira, 2 de julho de 2012
domingo, 1 de julho de 2012
Já não sei se quero mais ser professora
Pois bem, é verdade. Estou farta de não poder ter uma vida além desta
profissão. O facto de todos os anos nunca saber onde vou ficar
(longe?, perto?) e por quanto tempo (um mês? um ano?) impede-me, por
princípio, de me afeiçoar a pessoas e crianças que não voltarei a ver.
E o pior é que me afeiçoo sempre e acabo sempre magoada porque não
posso ficar com eles. Já para não falar nos homens por quem me
apaixonei mas que nada quiseram comigo porque "eu estou sempre de
partida"... (aqui também há aquela parte de eu me esforçar por não me
afeiçoar por "estar sempre de partida" e acabar sempre apaixonada e de
partida...)
Na verdade, já não sei bem se quero continuar a ser professora... É
uma profissão honrada, linda demais, muito, muito satisfatória, mas...
Tá-me a tirar anos de vida. Está-me a tirar momentos preciosos, amor,
amizades... Tá-me a tirar a minha vida emocional... e eu não sei se
quero mais isso... Os outros podem entender, mas, neste momento, sou
eu que não entendo...
profissão. O facto de todos os anos nunca saber onde vou ficar
(longe?, perto?) e por quanto tempo (um mês? um ano?) impede-me, por
princípio, de me afeiçoar a pessoas e crianças que não voltarei a ver.
E o pior é que me afeiçoo sempre e acabo sempre magoada porque não
posso ficar com eles. Já para não falar nos homens por quem me
apaixonei mas que nada quiseram comigo porque "eu estou sempre de
partida"... (aqui também há aquela parte de eu me esforçar por não me
afeiçoar por "estar sempre de partida" e acabar sempre apaixonada e de
partida...)
Na verdade, já não sei bem se quero continuar a ser professora... É
uma profissão honrada, linda demais, muito, muito satisfatória, mas...
Tá-me a tirar anos de vida. Está-me a tirar momentos preciosos, amor,
amizades... Tá-me a tirar a minha vida emocional... e eu não sei se
quero mais isso... Os outros podem entender, mas, neste momento, sou
eu que não entendo...
Não sei bem o que vou fazer, mas alguma coisa surgirá... Talvez um
novo curso, ou então vou simplesmente deixar-me de merdas e ir
trabalhar em qualquer lado em que me paguem pelo meu trabalho.
novo curso, ou então vou simplesmente deixar-me de merdas e ir
trabalhar em qualquer lado em que me paguem pelo meu trabalho.
E talvez um dia, quando as coisas passarem a fazer sentido outra vez,
talvez eu volte também...
talvez eu volte também...
Já não quero mais voar pelo país. Quero o meu cantinho nos braços de
alguém que me ame.
alguém que me ame.
Ana
P.S. Obrigada Ana. Gostei muito da tua partilha, embora me preocupe por este país perder o teu profissionalismo e capacidades que tens para o que fazes.
Eli
sábado, 30 de junho de 2012
Momento de pausa
Gosto quando posso chegar a casa e não ter que pensar mais em trabalho durante o tempo que não estou na escola. Ter um fim de semana inteiro só para brincar!
Hehehe
Eli
P.S. Hoje é o lançamento do Livro na Fábrica Braço de Prata (Lisboa) pelas 20:00 h.
Hehehe
Eli
P.S. Hoje é o lançamento do Livro na Fábrica Braço de Prata (Lisboa) pelas 20:00 h.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Papéis
E, quando, ao verificar os papéis das matrículas, nos deparamos que há alguns que não têm verso?! Ou seja, só têm a parte da frente da fotocópia?! Há que voltar a chamar os E. E. ! O difícil é encontrá-los a todos!
Ai...
Eli
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Concurso Madeira #2
- Vais concorrer para a Madeira?
- Não. Não sei. Se calhar é melhor... Tenho medo...
- Não. Não sei. Se calhar é melhor... Tenho medo...
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Concurso Madeira
Está a decorrer a primeira fase (inscrição) do concurso (até dia 28) para o Arquipélago da Madeira para os contratados:
http://www.madeira-edu.pt/drae/tabid/2878/Default.aspx
O código de utilizador é o teu número de contribuinte. Boa sorte.
Para aceder diretamente, clicar aqui:
http://docente-gpd.madeira-edu.pt/Default.aspx?tabid=55&returnurl=/Default.aspx
Eli
Agradeço è Professora Marta por me ter enviado um mail sobre os concursos e à Professora Carla Gomes por ter enviado o link direto.
Inscrição Obrigatória: 26 a 28 de junho;
Candidatura: 25 de julho a 1 de agosto.
http://www.madeira-edu.pt/drae/tabid/2878/Default.aspx
O código de utilizador é o teu número de contribuinte. Boa sorte.
Para aceder diretamente, clicar aqui:
http://docente-gpd.madeira-edu.pt/Default.aspx?tabid=55&returnurl=/Default.aspx
Eli
Agradeço è Professora Marta por me ter enviado um mail sobre os concursos e à Professora Carla Gomes por ter enviado o link direto.
Preferências
Um dia destes - normalmente em agosto, que é para ninguém descansar - está aí a Manifestação de Preferências. Este ano estás a pensar concorrer para onde?
Onde é que será que vais calhar?!
Eli
Concurso de Professores - Dec Lei publicado hoje
Portaria n.º 198/2012
de 27 de junho
http://pt.scribd.com/doc/98407642/Concursos-de-professores-Decreto-Lei-132-2012
Fazer as malas
Ora, nesta altura do ano, já é costume estar a juntar tudo para ir levando aos poucos. O ano letivo acaba e nós regressamos a casa, seja lá onde ela for. Somos aos milhares. O estado de espírito é de dever cumprido mas também de grande expetativa perante uma nova fase que todos os anos nos remete ao Desemprego - uns com subsídio, outros sem. Alguém diz que são "férias por tempo indeterminado", mas eu considero uma autêntica tortura não saber nem onde nem quando... Por isso, agora é tempo de juntar as tralhas - e quantas tralhas trazemos nós atrás - sejam elas roupa, calçado, roupa de cama, computador, impressora, livros, etc.. Quem está ou já esteve nesta situação, percebe bem do que falo! Neste momento, tenho a casa num caos! Estão metade das coisas prontas para levar na penúltima vez que planeei ir a casa e tenho que ter a noção se tudo o que ficar irá caber no carro na última viagem.
Eli
terça-feira, 26 de junho de 2012
1 de junho de 2012
Este dia é muito especial para as Crianças e,
se há aquelas que merecem comemorá-lo, há outras que nem tanto assim. Sim sim,
pareço insensível?! Mas falo com conhecimento empírico. No entanto, nós estamos
sempre lá para elas. É uma coisa estranha. Cansam-me, levam-me a paciência ao
rubro e a lados nunca dantes sonhados por mim, mas, encontro novos limites dessa
paciência. Parece que o copo enche, enche, transborda, mas cabe mais e
mais... Porém, se há esses que me "massacram" para sentir se há outro limite
para além do último, há outros que dá vontade de conhecer, estar, de até "levar
para casa" como lhes digo por vezes na brincadeira. Na verdade é por estes que
vale sempre sempre a pena e foi por eles que organizei uma peça de Teatro, que
apresentámos hoje. Parece que foi um sucesso, mas tudo se deveu a todos e estou
contente, porque não há nada melhor (profissionalmente) do que sentirmo-nos
recompensados pelo nosso trabalho. Ontem e hoje estive em modo de paciência
permanente, porque eles estavam tão felizes, que os seus maus comportamentos
eram justificados pela excitação. Todavia, descubro uma geração de muitos
meninos demasiado egoístas. Por mais que lute contra isso, eles não têm muita
sensibilidade perante os colegas, estando constantemente a tentar sobrepor-se ao
outro a todo o custo. Isto preocupa-me, pois é um exagero. Enfim. Depois, há
aquele lado: estão sempre prontos a ajudar-me e, apesar de tudo o que fazem ou
não fazem, da falta de concentração, do barulho, de correr nos corredores, das
queixinhas constantes, estão sempre "lá para mim". Este é o maior trunfo desta
turma, que é tão mista, tão heterogénea... que é tão minha... e que tenho mesmo
pena de deixar. Passo pelo menos cinco horas com eles por dia... por isso,
muitas vezes se enganam e me chamam "mãe", "tia" e outras coisas e, disso,
rio-me. Gostava de ficar para o ano letivo que vem, mas já sei que vou para uma
lista, onde só contam números. É isso que sou: um número. Nada mau, se fosse
para todos igual... Isto tudo para dizer que hoje apresentámos uma
Peça de Teatro, na qual também participei... e que nos soube mesmo bem. Penso
que lhes criei um momento inesquecível. Foram quatro sessões para onze turmas
distribuídas. Nada mau. Gostei mesmo e creio que este dia da Criança se tornou
realmente especial. (Eles são do terceiro e quartos anos, dos 8 aos 12
anos).
Eli
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